quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O GURU E A BUSCA – UM DIÁLOGO COM KRISHNAMURTI




Primeiro Diálogo com Swami Venkatesananda 25 de Julho de 1969

Swami Venkatesananda: Krishnaji, eu venho como um humilde questionador que vem até um guru, não no sentido do herói venerado, mas no sentido literal, como um removedor das trevas da ignorância- que é o que palavra guru significa. “Gu” significa trevas da ignorância e “ru” significa removedor, aquele que dispersa. Já que  o guru é a luz que dispersa as trevas da ignorância , você é uma luz para mim agora. Nós nos sentamos nesta tenda ouvindo você,  e eu não consigo visualizar outra cena . Por exemplo, Buda se dirigindo aos Bhikshus (discípulos) ou Vasishta instruindo Rama na coorte real de Dasaratha. Nós temos alguns poucos exemplos destes gurus nos Upanishads; Primeiro houve Varuna, o guru, ele é muito parecido com você. Ele apenas incitava seus discípulos com as palavras “ Tapasa Brahma… Tapo Brahmeti”. “Que é Brahman? Não me pergunte”. Tapo Brahman, tapas,  “austeridade ou disciplina” ou como você mesmo frequentemente diz; “ Descubra”. E o próprio discípulo descobre a verdade – mas, por etapas.
Yajnyavalkya e Uddhalaka adotaram uma abordagem mais direta. Yajnyavalka instruindo sua esposa Maitreyi, usava o método “neti, neti” ( nem isso, nem aquilo). Você não pode descrever Brahman positivamente, mas quando você elimina todos os outros, ele está lá. Como você disse outro dia : o amor não pode ser descrito: “é isto”. Mas apenas eliminando-se o que o amor não é- é que ele se revela.
Uddhalaka usava diversas analogias para capacitar seus discípulos a ver a verdade e então cravá-los com a famosa analogia Tat- Twam- Asi ( Você é isto).
Darkshinamurti instruía seus discípulos pelo silêncio e Chinmudra. É dito que Sanatkumaras foram até ele para se instruírem. Quando eu li as descrições de como era Krishnamurti quando jovem, eu sempre me recordo disso. Estes velhos sábios foram até ele e Dakshinamurti ficou em silêncio e mostrou Chinmudra. Os discípulos olharam para ele e se iluminaram. É possível que alguém perceba a verdade sem ajuda de um guru- ou como queira chamar. Obviamente mesmo aqueles que vem regularmente a Saanen são socorridos em sua busca. Agora, na sua visão, qual é o papel de um guru, um preceptor ou um despertador?

Krishnaji: Senhor, se estás usando a palavra guru no sentido clássico, que é o de removedor das trevas da ignorância, pode uma outra pessoa -quem quer que seja, iluminado ou estúpido -realmente ajudar a dispersar esta escuridão em alguém? Suponha que “A” é um ignorante e você seu guru- guru no sentido usual, aquele que dissipa a escuridão e aquele que suporta o peso do outro, aquele que aponta- pode tal guru ajudar o outro? Ou melhor, pode o guru dissipar a escuridão do outro? Não teoricamente mas de verdade?
Você pode, se você for o guru de alguém, dispersar a escuridão de uma outra pessoa? Sabendo que ela é infeliz, confusa, não tem muita massa cinzenta, não tem bastante amor ou sofrimento, você pode dissipar isso?
Ou ele tem que trabalhar tremendamente sobre si mesmo? Você pode apontar, você pode dizer , “ Veja, passe por aquela porta” mas ele tem que fazer todo o trabalho do começo até o fim. Desta forma, você não será um guru no sentido normalmente aceito dessa palavra- se você disser que  não pode socorrer o outro.

Swamiji: É apenas isso: o “se” e o “mas”. A porta está lá. Eu tenho que atravessá-la. Mas existe esta ignorância sobre onde a porta está. Você, ao apontá-la, remove esta ignorância.

Krishnaji: Mas eu tenho que caminhar até lá… Senhor, você é o guru, se você aponta para a porta, você terminou o seu trabalho!

Swamiji: Assim a treva da ignorância é  removida.

Krishnaji: Não. Seu trabalho terminou!  Agora fica por minha conta me levantar, caminhar e ver o que está envolvido no caminhar. Eu tenho que fazer tudo isso.

Swamiji: Isto é perfeito.

Krishnaji: Assim você não dissipa minha escuridão.

Swamiji: Me desculpe. Se eu não sei como sair desta sala…Eu sou ignorante acerca da existência da porta naquela direção. O guru remove as trevas daquela ignorância. Então eu dou os passos necessários para sair.

Krishnaji: Senhor, vamos ser claros. Ignorância é a falta de entendimento, ou é a falta de entendimento de si mesmo? Não do grande “eu”, mas do pequeno “eu”? A porta é o “eu” através do qual eu tenho que ir. Não está fora de mim. Não é uma porta de verdade-como aquela porta pintada. É uma porta em mim, através do qual eu tenho que ir. Você diz: “faça isso”.

Swamiji: Exatamente.

Krishnaji: Você, como guru, terminou. Você não se torna algo importante. Eu não coloco guirlandas ao redor de sua cabeça. Eu tenho que fazer todo o trabalho, todo o trabalho! Você não dissipou as trevas da ignorância. Você , ao contrário, me mostrou que “ Você é a porta através do qual você mesmo tem que passar”.
Swamiji: Mas você, Krishnaji, aceita que foi necessário apontar?

Krishnaji: Sim, é claro. Eu aponto, eu faço isso. Nós todos fazemos isso. Eu pergunto a um homem na estrada, “ Por favor, você pode me dizer qual é o caminho pra Sannen?” e ele me diz. Mas eu não gasto meu tempo, devoção e amor dizendo: “Meu Deus, você é o maior dos homens”. Isso é muito infantil.

Swamiji: Obrigado, senhor.

Extraído do livro “ The Awakening of Inteligence” ( O Despertar da Inteligência)
Tradução: Alsibar
http://alsibar.blogspot.com



Um comentário:

  1. Terrivelmente simples para a Espetaculosa Granja Humana... Não creio que a maioria dos s esteja buscando a própria porta, ainda mais nesta "geração do Me Leva": me leva para a porta, me leva para a luz, me leva à liberdade... Em troca me levam a alma... Quem quer acordar? O espetáculo deve estar muito interessante...

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